segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Ser professor é obedecer ao segundo mandamento



Ser professor é obedecer ao segundo mandamento

No Brasil, cada vez mais tem se tornado difícil ser professor. Na maior parte do país, a estrutura ou qualidade do ambiente do trabalho tem piorado. Não tem havido condições suficientes para o exercício pleno do magistério. É certo que há sim locais em que os professores tem excelentes condições, e talvez nesses lugares ser professor é um fardo menos pesado e não diminui a maravilha que é ser professor.
Não quero, também, com esse texto fazer uma ode ao sofrimento do trabalho do professor, romantizando e glamurizando o trabalho em locais difíceis. Mesmo que para expor minhas ideias eu use exemplos desses locais difíceis. Seja onde for, o trabalho do professor é obedecer ao segundo mandamento.
Quando digo segundo mandamento estou me referindo ao texto bíblico que relata o diálogo de Jesus com os fariseus[1]. Nessa conversa Jesus é questionado sobre qual seria e o maior mandamento da Lei, Jesus responde que o maior mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento, em seguida emenda que o segundo mandamento é “ame a seu próximo a si mesmo”.
Oras, o que significa isso então na vida do professor? Primeiro quero que você pare por um instante e pense: “eu me amo?”, “possuo amor próprio?”. A primeira coisa para que eu seja capaz de amar a outro é amar a mim mesmo, não no sentido egoísta e individualista, mas enquanto cuidado de mim. Só podemos dar aquilo que possuímos, como dizia um estória que li, “a xicara sacudida só derrama o que tem dentro dela, se for café, derrama café, se for chá derrama chá”. Sendo bíblico, “a boca fala do que o coração está cheio[2]”, logo, a pergunta é: Seu coração está cheio de que? Será isso que você transbordará e derramará.
Segundo, quem é meu próximo? Em se tratando do professor, seu próximo são as pessoas com quem você trabalha, ou seja, seus colegas de trabalho, mas principalmente o aluno. O professor de educação infantil e anos iniciais do fundamental, passam em média 25h com seus alunos em sala, os professores do ensino fundamental e médio passam de 2 a 64h/aula (no caso de ser da rede publica estadual, a lei permite 64h/aula para os que tem acumulo de cargo na educação).
No entanto, independente do numero de horas que um professor passa dentro de sala, ser professor é obedecer ao segundo mandamento. Pense comigo, o professor é alguém que dedicou alguns anos, 3 ou 4 anos, estudando exclusivamente o conteúdo de sua disciplina, estagiou, entrou na sala “cru”, faz capacitações, buscou especializar-se, lê, estuda, gasta tempo em sua casa preparando aula. Isso tudo para quem? Para o seu aluno, seu próximo. Ter em mente isso, faz do trabalho do professor, especialmente do cristão, obediência a Deus e ao seu mandamento.
Lecionar é, ao meu ver, a segunda maneira de expressar o amor no seu sentido ágape[3], ou seja, um amor incondicional. Quero dizer que o professor não coloca condições para realizar o seu trabalho, ele prepara a aula para todos seus alunos. Para os que ele sabe que tem interesse, os que se interessam pouco e os que não apresentam interesse também estão em mente quando o professor prepara sua aula. Esses últimos acabam sendo os que mais dominam os pensamentos do professor que se questiona: “o que posso fazer para ele se interessar?”.
Nesse ponto ele é expressão do mandamento, pois, amar o próximo no mandamento denota a ação de amar a todos. Vejamos, amar os que te amam, que não exige nada de você e é fácil, basta corresponder o amor que você recebe. Amar quem não te ama, o que também não é difícil, mesmo que seja frustrante não ter seu amor correspondido. Outro é amar quem é desconhecido, o que também não é difícil, haja vista que você não conhece as falhas do outro. E aquilo que caracteriza como incondicional, amar aquele que não gosta de você. Esse é o público que todo professor tem diante de si.
Ser professor não é dar aulas apenas para ouvintes atentos e cheios de curiosidade pelo conteúdo que você tem para compartilhar. Aí está outra característica do trabalho de professor que o coloca como obediente ao segundo mandamento, você compartilha o que você tem, no caso, seu conhecimento.
Na maioria das vezes você se depara com um publico pouco ou nada receptivo ao que você tem a dizer, tendo que conquistar a atenção dos seus ouvintes. Pode ser em minutos, logo que começa a falar e se apresentar. Podem demorar algumas aulas, e tristemente, devo admitir, pode ser que nunca aconteça. Mesmo assim o professor está ali para obedecer ao mandamento de amar ao próximo como ele se ama. Dar o mesmo tipo de atenção e valor que dá para si mesmo. Cuidar como cuida de si, zelar como zela por si, nutrir como se nutri, compartilhar o que lhe foi partilhado.
Já parou para pensar naqueles professores que lecionam embaixo de árvores, em prédios de taipa, em barracões. Professores que caminham, nadam, remam, pedalam horas, quilômetros para chegar no seu local de trabalho e lecionar, aqueles que trabalham em zonas de conflito armado. O que os faz ir para o trabalho senão o amor pelos que faz e pelos seus alunos? Não é uma questão financeira, não é status social, nem reconhecimento. No caso do Brasil e em outros países, os professores da educação básica (publica) são mal remunerados. No Brasil não é status ser professor, muitas famílias não incentivam e até se opõem quando o filho opta por ser professor. Consequentemente não haverá reconhecimento do poder publico, dos pais, dos alunos e de muitos pares que compartilham com o professor o trabalho.
Apesar de toda dificuldade, inclusive apesar das facilidades (que podem levar a acomodação), ser professor é obedecer ao segundo mandamento. Ser professor é amar ao próximo como a si mesmo. É semelhante ao amor de Jesus por sua Igreja. É sacrificial, é incondicional, é altruístico, é ágape.
Alguém deve pensar, nem todo professor é assim. Minha resposta é sim, verdade nem todos são assim, uns não reconhecem assim sua profissão, outros não amam mesmo, outros é como se fosse um “bico”, temporário até outro trabalho melhor. Mas lembre-se, estou falando do PROFESSOR, esse que citei antes são na verdade profissionais da educação, um profissional da educação não é professor, nem nunca será enquanto não amar o que e a quem faz. Eles precisam mesmo é de ajuda, para não tratar seus alunos como coisas inanimadas e passivas, invés de trata-los como pessoas.
Hoje sou coordenador de uma escola, observo que meu trabalho deve seguir a mesma lógica, a de amar meu próximo, expandindo a noção de “próximo” para além dos meus alunos, para com os professores e pais de alunos da escola na qual atuo como Professor Coordenador Pedagógico. Percebo algo ainda mais profundo, a afirmação de que “quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[4].
Como é bom poder obedecer a Deus em muitos aspectos com meu trabalho, espero que você possa perceber quão precioso é o trabalho do professor, quem sabe o seu trabalho, seja você leitor um professor ou não. Se você nunca parou para pensar nisso que acabou de ler, deixa eu te contar: em 10 anos como professor eu nunca pensei assim, tive de completar esse tempo de magistério, passar por algumas situações e só dai me tocar dessa maravilha.
Apesar de toda dificuldade na tarefa de ser professor não se esqueça: SER PROFESSOR É OBEDECER AO SEGUNDO MANDAMENTO, AMAR AO PRÓXIMO COMO A MIM MESMO. Só que não deixe de amar-se. Encha-se daquilo que deseja transbordar.

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[1] Mateus 22:34-40 e Marcos 12:28-34
[2] Mateus 12:24
[3] No grego temos pelo menos quatro tipo de palavras para descrever amor: eros, philia, storge e ágape. https://en.wikipedia.org/wiki/The_Four_Loves
[4] 1 Coríntios 10:31

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