Ser
professor é obedecer ao segundo mandamento
No
Brasil, cada vez mais tem se tornado difícil ser professor. Na maior parte do
país, a estrutura ou qualidade do ambiente do trabalho tem piorado. Não tem
havido condições suficientes para o exercício pleno do magistério. É certo que
há sim locais em que os professores tem excelentes condições, e talvez nesses
lugares ser professor é um fardo menos pesado e não diminui a maravilha que é
ser professor.
Não
quero, também, com esse texto fazer uma ode ao sofrimento do trabalho do
professor, romantizando e glamurizando o trabalho em locais difíceis. Mesmo que
para expor minhas ideias eu use exemplos desses locais difíceis. Seja onde for,
o trabalho do professor é obedecer ao segundo mandamento.
Quando
digo segundo mandamento estou me referindo ao texto bíblico que relata o diálogo
de Jesus com os fariseus[1].
Nessa conversa Jesus é questionado sobre qual seria e o maior mandamento da
Lei, Jesus responde que o maior mandamento é amar a Deus de todo o coração, alma
e entendimento, em seguida emenda que o segundo mandamento é “ame a seu próximo
a si mesmo”.
Oras,
o que significa isso então na vida do professor? Primeiro quero que você pare
por um instante e pense: “eu me amo?”, “possuo amor próprio?”. A primeira coisa
para que eu seja capaz de amar a outro é amar a mim mesmo, não no sentido egoísta
e individualista, mas enquanto cuidado de mim. Só podemos dar aquilo que possuímos,
como dizia um estória que li, “a xicara sacudida só derrama o que tem dentro
dela, se for café, derrama café, se for chá derrama chá”. Sendo bíblico, “a
boca fala do que o coração está cheio[2]”,
logo, a pergunta é: Seu coração está cheio de que? Será isso que você transbordará
e derramará.
Segundo,
quem é meu próximo? Em se tratando do professor, seu próximo são as pessoas com
quem você trabalha, ou seja, seus colegas de trabalho, mas principalmente o
aluno. O professor de educação infantil e anos iniciais do fundamental, passam
em média 25h com seus alunos em sala, os professores do ensino fundamental e
médio passam de 2 a 64h/aula (no caso de ser da rede publica estadual, a lei
permite 64h/aula para os que tem acumulo de cargo na educação).
No
entanto, independente do numero de horas que um professor passa dentro de sala,
ser professor é obedecer ao segundo
mandamento. Pense comigo, o professor é alguém que dedicou alguns anos, 3
ou 4 anos, estudando exclusivamente o conteúdo de sua disciplina, estagiou,
entrou na sala “cru”, faz capacitações, buscou especializar-se, lê, estuda,
gasta tempo em sua casa preparando aula. Isso tudo para quem? Para o seu aluno,
seu próximo. Ter em mente isso, faz do trabalho do professor, especialmente do
cristão, obediência a Deus e ao seu mandamento.
Lecionar
é, ao meu ver, a segunda maneira de expressar o amor no seu sentido ágape[3],
ou seja, um amor incondicional. Quero dizer que o professor não coloca condições
para realizar o seu trabalho, ele prepara a aula para todos seus alunos. Para os
que ele sabe que tem interesse, os que se interessam pouco e os que não
apresentam interesse também estão em mente quando o professor prepara sua aula.
Esses últimos acabam sendo os que mais dominam os pensamentos do professor que
se questiona: “o que posso fazer para ele se interessar?”.
Nesse
ponto ele é expressão do mandamento, pois, amar o próximo no mandamento denota
a ação de amar a todos. Vejamos, amar os que te amam, que não exige nada de
você e é fácil, basta corresponder o amor que você recebe. Amar quem não te
ama, o que também não é difícil, mesmo que seja frustrante não ter seu amor
correspondido. Outro é amar quem é desconhecido, o que também não é difícil,
haja vista que você não conhece as falhas do outro. E aquilo que caracteriza como
incondicional, amar aquele que não gosta de você. Esse é o público que todo
professor tem diante de si.
Ser
professor não é dar aulas apenas para ouvintes atentos e cheios de curiosidade
pelo conteúdo que você tem para compartilhar. Aí está outra característica do
trabalho de professor que o coloca como obediente ao segundo mandamento, você
compartilha o que você tem, no caso, seu conhecimento.
Na
maioria das vezes você se depara com um publico pouco ou nada receptivo ao que você
tem a dizer, tendo que conquistar a atenção dos seus ouvintes. Pode ser em
minutos, logo que começa a falar e se apresentar. Podem demorar algumas aulas,
e tristemente, devo admitir, pode ser que nunca aconteça. Mesmo assim o
professor está ali para obedecer ao mandamento de amar ao próximo como ele se
ama. Dar o mesmo tipo de atenção e valor que dá para si mesmo. Cuidar como
cuida de si, zelar como zela por si, nutrir como se nutri, compartilhar o que
lhe foi partilhado.
Já
parou para pensar naqueles professores que lecionam embaixo de árvores, em prédios
de taipa, em barracões. Professores que caminham, nadam, remam, pedalam horas, quilômetros
para chegar no seu local de trabalho e lecionar, aqueles que trabalham em zonas
de conflito armado. O que os faz ir para o trabalho senão o amor pelos que faz
e pelos seus alunos? Não é uma questão financeira, não é status social, nem
reconhecimento. No caso do Brasil e em outros países, os professores da educação
básica (publica) são mal remunerados. No Brasil não é status ser professor,
muitas famílias não incentivam e até se opõem quando o filho opta por ser
professor. Consequentemente não haverá reconhecimento do poder publico, dos
pais, dos alunos e de muitos pares que compartilham com o professor o trabalho.
Apesar
de toda dificuldade, inclusive apesar das facilidades (que podem levar a
acomodação), ser professor é obedecer ao
segundo mandamento. Ser professor é amar ao próximo como a si mesmo. É
semelhante ao amor de Jesus por sua Igreja. É sacrificial, é incondicional, é altruístico,
é ágape.
Alguém
deve pensar, nem todo professor é assim. Minha resposta é sim, verdade nem
todos são assim, uns não reconhecem assim sua profissão, outros não amam mesmo,
outros é como se fosse um “bico”, temporário até outro trabalho melhor. Mas
lembre-se, estou falando do PROFESSOR, esse que citei antes são na verdade
profissionais da educação, um profissional da educação não é professor, nem
nunca será enquanto não amar o que e a quem faz. Eles precisam mesmo é de
ajuda, para não tratar seus alunos como coisas inanimadas e passivas, invés de trata-los
como pessoas.
Hoje
sou coordenador de uma escola, observo que meu trabalho deve seguir a mesma
lógica, a de amar meu próximo, expandindo a noção de “próximo” para além dos
meus alunos, para com os professores e pais de alunos da escola na qual atuo
como Professor Coordenador Pedagógico. Percebo algo ainda mais profundo, a
afirmação de que “quer comais quer
bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”[4].
Como é bom poder obedecer a Deus em muitos
aspectos com meu trabalho, espero que você possa perceber quão precioso é o
trabalho do professor, quem sabe o seu trabalho, seja você leitor um professor
ou não. Se você nunca parou para pensar nisso que acabou de ler, deixa eu te
contar: em 10 anos como professor eu nunca pensei assim, tive de completar esse
tempo de magistério, passar por algumas situações e só dai me tocar dessa
maravilha.
Apesar de toda dificuldade na tarefa de ser
professor não se esqueça: SER PROFESSOR É
OBEDECER AO SEGUNDO MANDAMENTO, AMAR AO PRÓXIMO COMO A MIM MESMO. Só que
não deixe de amar-se. Encha-se daquilo que deseja transbordar.
[1]
Mateus 22:34-40 e Marcos 12:28-34
[2]
Mateus 12:24
[3]
No grego temos pelo menos quatro tipo de palavras para descrever amor: eros,
philia, storge e ágape. https://en.wikipedia.org/wiki/The_Four_Loves
[4]
1 Coríntios 10:31
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